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O caso conta-se em poucas palavras: o padre Foucher, pároco de uma paróquia francesa, morre. Pouco tempo depois, a chanceler da diocese, Charlotte de seu nome, descobre que Foucher, de quem gostava, era afinal uma mulher que tinha conseguido passar por homem, ao longo da vida.
Charlotte, mulher “inteligente e determinada”, que cuida sozinha do seu filho adolescente, depara-se com a intenção do bispo Mével de encobrir o potencial escândalo. Decide, porém, entregar-se à investigação de quem foi, de facto, o padre Foucher – como e com que estratagemas foi possível encobrir tamanha impostura.
E o que descobre é inquietante, inclusivamente sobre feridas e segredos do seu próprio passado.Tudo isto é, porém, pura ficção, constituindo a trama de uma longa metragem intitulada “Magnificat”, que chega esta quarta-feira, dia 21 de junho, aos cinemas de França e outros países da região, com realização de Virginie Sauveur.
O argumento baseia-se num livro de Anne-Isabelle Lacassagne e o que motivou Sauveur a apostar na adaptação foi, precisamente, a figura de Charlotte e o facto de o presbiterado ser no ocidente o último setor da vida social vedado às mulheres.
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“É sempre emocionante contar sobre heroínas ou heróis que são capazes de transgredir regras que lhes parecem injustas ou regressivas, para reivindicar a sua liberdade”, confessa a realizadora, em declarações ao site católico suíço cath.ch.Virginie Sauveur recusa, na entrevista, ter feito um filme para atacar a Igreja.
Diz-se uma pessoa com sensibilidade cristã. “Tenho uma imensa curiosidade e admiração por Cristo e a sua palavra, à qual sou muito apegada. Jesus, para mim, foi um homem incrível, e um grande feminista, que tentou colocar a mulher no centro, numa sociedade extremamente misógina”, observou.Porém, não se assume como católica, apesar de admirar o Papa Francisco.
“A Igreja, às vezes, carece de tolerância, de abertura; há muitas condenações, restrições”, lamenta.Sauveur, que apresenta no filme vários tipos de padre, confessa ter procurado evitar maniqueísmos, personagens simplistas ou superficiais, o que o autor da entrevista, Raphaël Zbinden, reconhece, quando, em nota de comentário, chama a atenção para “a subtileza e a sensibilidade com que [a realizadora] coloca questões delicadas”, com “um naipe assinalável de atores e uma encenação notável”.